Escolhas

Todos têm um talento. Alguns são entusiastas da música, outros das artes plásticas, alguns cozinham bem, outros escrevem. Bem, o meu dom é sempre fazer a escolha errada. É incrível, mas em toda oportunidade em que eu tenho uma ou mais opções, fatalmente acontece: eu escolho a errada. 

Comecemos quando o dia amanhece e eu tenho de sair da cama. Como durmo sozinha numa cama de casal, posso me orgulhar em dizer que os dois lados da cama são meus. Como não tenho uma rotina, tem dia que me levanto pelo lado direito da cama, tem dia, pelo lado esquerdo. Mas essa escolha, ainda inebriada pelo sono matutino de quem levanta às 5h50, vem sempre acompanhada da variável o lado que o chinelo está. Obviamente, se meu chinelo estiver do lado direito da cama, involuntariamente escolherei acordar pelo lado esquerdo.

Também tenho problemas quando vou escolher a roupa para vestir. Quando está chovendo, pego uma rasteirinha. Quando está calor, uma blusa de manga comprida. Quando está frio, saio de saia. Enfim... Escolhas erradas... sempre!

Mas o que sou campeã mesmo - e que a propósito me motivou a escrever esse texto - são as escolhas no trânsito. Se onde Midas colocava o dedo virava ouro, onde eu coloco as rodas do meu carro vira merda. Se há duas fileiras de carros, exatamente do mesmo comprimento e ao me aproximar resolvo me juntar a uma delas, basta isso para que a que eu não escolhi comece a andar. E se, porventura, eu ligar a seta e mudar de lado, a que eu estava anteriormente começa a fluir como carros com batedores. Buracos, motoristas mal-educados, setas de outros carros que não funcionam, carros quebrados, caminhões vagarosos, toda a sorte (ou melhor, azar) de coisas ruins do trânsito se instalam à minha frente. Como se não bastasse, vejo a fila ao lado passar, passar e passar... como se me desse tchauzinho e dissesse "tchau, otária!". Fico aqui pensando que tipo de otária sou eu, que prefere se aglutinar a um amontoado de carros, sentir o sangue ferver na cara a cada cinco quadras, xingar pessoas e mães de pessoas que nunca viu na vida. É mais uma das escolhas erradas que faço. 

Escolhi fazer jornalismo. Escolhi trabalhar num banco. Não escolhi ter um filho, mas escolhi não usar camisinha. Escolhi gostar de caras que não gostam de mim e escolhi não gostar dos que gostaram. Ô, talento infeliz!

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