A luz acabou

Destranquei a porta e teclei o interruptor da sala. A luz não se acendeu. Refiz o gesto três vezes e nem a minha insistência desesperada a fez mudar de ideia. A energia havia acabado, como já percebeu o atento amigo leitor. 
Fiquei frustrada.
Mas não me deixei abater. Peguei o celular no bolso e o liguei. Ah, celular... O que seria de mim sem você? Sempre tão presente, tão atencioso, tão, tão... tão necessário. Sua luminosidade me guiou até onde eu guardo as velas. E o fósforo? Onde estaria o fósforo? Uma vez que o fogo na minha casa provem somente do acendedor elétrico do fogão, nem me lembrava da última vez que havia pego um desses aqui em casa. Enfim, encontrei ambos e dei início à minha sessão romântica. Sim, porque não sei por que cargas d'água velas são sinônimo de romantismo! Então, iniciei a minha noite romântica comigo mesma.
Meu primeiro ato romântico à luz de velas foi tirar os tênis. Claro, porque é preciso liberdade nas noites românticas! Sentei-me no sofá e começou o devaneio.
Ao contrário do que possa imaginar o distinto leitor este post não é sobre velas ou romantismo e, sim, sobre expectativas. A todo momento, por mais que tentemos nos convencer que não, estamos criando expectativas. Há uma dificuldade em nós em lidar com aquilo que não é esperado ou a ausência do esperado. O simples fato corriqueiro de tentar acender a luz e não conseguir nos deixa frustrados. 
Isso porque estou falando de coisas do nosso cotidiano: não ter água no filtro, o carro não dar partida, uma blusa sem passar... Estamos todo o tempo expostos a não realizações e sabe o que é mais fabuloso quanto a isso? Nós sobrevivemos. O ser humano é dotado de incrível capacidade de superar frustrações, ao mesmo tempo que cria suas expectativas. 
Vem alguém e nos diz "não crie expectativas" e eu respondo "não há como, elas se criam sozinhas dentro de mim". Barata. Já viu alguém criar barata? Mas o fato é que em toda casa tem. Em algum lugar escondido há sempre uma baratinha. Assim são as expectativas. Você está sempre esperando que algo aconteça. A ligação do dia seguinte, o elogio após o jantar, o carinho após o sexo... Entretanto, lidamos com isso com toda elegância que as situações requerem. No meu caso, usei o celular. Paliativo, mas funcionou. O mundo não vai parar porque as coisas não acontecem do nosso modo. Continue criando suas baratinhas interiores, amigo leitor, mas aconselho que não as deixe te dominar.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Biotônico Fontoura

Errando que se aprende

Homens de All Star