Eu que o diga!

Não sei se você é como eu. Quando estou caminhando na rua quero falar sobre tantas coisas, tenho tantas opiniões para emitir, encontro coisas engraçadas e desgraçadas e penso "quando chegar em casa vou escrever sobre isso". Nunca escrevo.

Não que minhas opiniões sejam importantes e devam ser proferidas aos quatro cantos. Muito pelo contrário, eu tenho noção da minha pequenez no mundo. Mas, sabe, dá vontade de falar. Atualmente as pessoas não falam mais. Uma pessoa diz e um milhão curte ou compartilha, ou seja, apropria-se do pensamento e dos dizeres alheios. O próprio ato de conversar, por exemplo, perdeu-se no tempo. As pessoas estão carentes de conversa hoje em dia.   (1)

Lembro-me de quando fazia faculdade e meu amigo Rodolfo e eu sentávamos nas escadarias da Faculdade de Letras e conversávamos, conversávamos e conversávamos. Falávamos de tudo. Política, música, comida, amores, o que viesse à cabeça. Tínhamos tempo. Hoje quem tem tempo para visitar uma pessoa em casa? No máximo, damos uma passadinha. É o receio de incomodar. Medo de atrapalhar em alguma coisa. Parece que o tempo que "gastamos" conversando com uma amiga, talvez pudesse ser melhor empregado em algo mais proveitoso, como ficar curtindo comentários no Facebook ou assistindo tevê. Sim. Tememos a conversa. Não gostamos de visitas, muito menos de visitar. É triste, mas é fato.

Há muito deixei de me imaginar morando no interior novamente. Entretanto, em alguns momentos sou tomada de uma profunda saudade da minha infância. Tempo aquele em que os vizinhos colocavam suas cadeiras de fio na calçada a noite para conversar, enquanto nós, crianças, brincávamos de esconde-esconde atééé taaarde... Parece que ouço as vozes dos meus amigos contando de um até trinta, as risadas dos adultos se deliciando quando dava alguma confusão (dessas de criança) nas brincadeiras e também sinto os pés doloridos de correr descalço no asfalto. E no final das contas, todos se recolhiam. As crianças para o banheiro primeiramente (às vezes para tomar banho, às vezes para apenas lavar os pés), os pais para os quartos. E dormíamos um sono leve, pensando em qual seria o esconderijo de amanhã e que eu seria a última a ser encontrada.

(1) Uma prova de que as pessoas estão carentes de conversa é só iniciar uma. Certamente você terá pouco espaço para falar. Ao começar um assunto, ou uma narrativa, somos logo entrecortados pelo interlocutor que se lembra de algo imprescindível de ser dito naquele exato momento. Isto é, até noções de educação são deixadas de lado quando temos a oportunidade de por a oratória em dia. Daí, polidamente retomamos ao nosso assunto quando o nosso ouvinte(?) nos permite. "Como eu tava dizendo..."

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