Pérolas do cancioneiro infantil

Eu confesso que até hoje não sei o Hino Nacional todo. Não foi por falta de querer aprender, no entanto, como ele foi escrito há muito, muito, muito tempo eu sempre achei a linguagem por demais rebuscada e desatualizada. As proparoxítonas foram meu ponto fraco: plácidas, raios fúlgidos e vívidos, límpido, flâmula, impávido colosso (lembrava sempre da TV Colosso, na Globo), esplêndido, lábaro,... E há outras palavras que até hoje me deixam olhando para cima enquanto canto: penhor dessa igualdade (só lembro de penhor de jóias no banco), fulguras, garrida, clava forte e florão da América (o que seria um florão, meu Deus?! Me ensinaram que uma flor grande era uma florzona, mas nunca me disseram que ela tinha um companheiro!). Nada disso fazia (e continua não fazendo) parte do meu cotidiano. São expressões completamente démodées.

Selecionei outras músicas e ditados infantis, uma vez que agora fico minutos e minutos a fio assistindo vídeos infantis da Xuxa, Galinha Pintadinha, Chaves e Patati e Patatá. Fico ouvindo a letra das músicas e imaginando coisas... algumas tenebrosas, que espero que o Pedro não imagine tão cedo.

Enganei o bobo, na casca do ovo – Já que é um bobo, você pode enganá-lo em qualquer lugar. A casca do ovo só foi a escolhida porque dava uma rima legal. Mas podia ser também “na toca do lobo”, “na cara do ogro” ou “em cima do toco”. Portanto, não se acanhe em mudar as letras daquilo que você não gosta. Ser diferente tá em alta! Imagine todo mundo cantando “Enganei o bobo, na casca do ovo...” e você solta um “Enganei o bobo, em cima do toco...”

A barata diz que tem sete saias de filó, é mentira da barata, ela tem é uma só – Ensina a criança a não acreditar nas pessoas. Passa a elas a imagem de uma barata falsa e mentirosa que só quer enganar as pessoas. Estamos construindo um mundo de pessoas desconfiadas.

Vaca preta pulou a gaveta, quem conversar primeiro vai comer a bosta do capeta – Ou seja, se você conversar será o mais desprezível entre os desprezíveis comedores de cocô. As fezes do Coisa Ruim são o que de pior a imaginação das crianças consegue elaborar? Eu sugeriria a elas “quem conversar primeiro é amigo de Suzane Von Richthofen (ou Alexandre Nardoni)”. Não tem rima, mas certamente é mil vezes pior que a ‘bosta do capeta’.

Cinco patinhos foram passear, além das montanhas, para brincar, a mamãe gritou: Quá, quá, quá, quá, mas só quatro patinhos voltaram de lá. - Que tipo de mãe desnaturada deixa os filhos saírem assim? E o pior, ela só sai para buscá-los quando não volta mais nenhum patinho! Quer dizer, enquanto eu tiver um, tô no lucro! Ainda recebo o Bolsa Ninhada!

Casinha de bambuê, enfeitada de bambuá, auê, auá, quem mexer primeiro sai! – Alguém poderia me dizer ou me mostrar que diabos é um bambuê e um bambuá??? Não consigo imaginar como é uma casa feita de bambuê e enfeitada de bambuá, me perdoem... A nossa intuição nos faz acreditar que seja algo parecido com bambu, mas nem sempre devemos seguir essa lógica, pois poderíamos pensar que pênis é uma espécie de esporte ou um calçado, por exemplo.

Atirei o pau no gato, mas o gato não morreu – Crime doloso! Ou seja, a pessoa tinha a intenção de matar o gato e havia planejado o ato meticulosamente. Isso fica evidente quando o sujeito usa a conjunção adversativa “mas”, demonstrando que ele ficou decepcionado pelo gato não ter vindo a óbito naquela circunstância.

Comentários

  1. Vish meu você é muuiiiitto linda e escreve muiiitto bem??? o que eu faço para te conquistar???????
    BJOS ANONIMO

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    1. Primeira coisa é deixar de ser ANONIMO, né? rsrs

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